sábado, 13 de abril de 2024

O Palmeiras vive a era mais vitoriosa de sua história no período em que eu menos me importo com o futebol

    Começa amanhã a trajetória do Palmeiras pelas 38 rodadas do Campeonato Brasileiro de 2024. O Palmeiras tende a figurar como favorito ao título desde este domingo, no jogo contra o recém chegado à Série A, Vitória, até o início do mês de dezembro, quando fecha o torneio enfrentando o Fluminense no Allianz Parque.
    
    E fato é, o Palmeiras já foi campeão paulista no último final de semana, campeão brasileiro no último ano, campeão das Américas há pouco tempo atrás, campeão de Recopa, Copa do Brasil e mais o que o torcedor pode imaginar (só do Mundial que não). E eu estou zero engajado com o time. 

    Eu aprendi a ser palmeirense em uma época em que o clube não ganhava nada. Acompanhava fixamente cada campeonato na TV, cada oscilação na tabela, no tempo nebuloso em que todos os anos acontecia uma luta para escapar da Série B. Acompanhei, inclusive, o time na Série B. Nunca, na minha época de palmeirense mais "firme", imaginaria ver o Palmeiras numa fase tão vitoriosa, com tantos craques e tantas conquistas. Entretanto, agora que isso está acontecendo, o futebol é só mais uma coisa na minha vida, dentre todas as outras que passam e deixamos ir. 

    Esse texo é um desabafo, não tem muito o que argumentar, mas fica aqui o protesto. E claro, a torcida por mais um título brasileiro, de Libertadores, de Mundial, de qualquer coisa, ao fim desse ano. Avanti Palestra.

sábado, 30 de março de 2024

Missa na televisão é transmissão de futebol

     É Sábado de Aleluia e estamos, dentro da liturgia católica, a algumas horas das celebrações mais importantes de todo o calendário da Igreja, a Vigília Pascal e a Missa do Domingo de Páscoa. Aproveitando este momento oportuno, gostaria de lançar aqui neste espaço uma reflexão sobre uma das realidades da Igreja pós-pandemia.

    Imagino que não preciso relembrar ninguém sobre o que aconteceu no início de 2020, mas por via das dúvidas, ocorreu que uma doença viral altamente contagiosa, nomeada como SARS-CoV 2 assolou os quatro cantos do globo, obrigando todas as pessoas a se isolarem umas das outras. A doença, mais popularmente chamada de COVID-19 fez com que estabelecimentos comerciais, agências bancárias, escolas, estádios de futebol, igrejas e outros espaços de possível convivência entre as pessoas fechassem as portas. Foi uma medida necessária, que mostrou resultados. Hoje temos diversas vacinas que combatem este mal, mas àquela época, no auge dos contágios, fez-se o que deveria ser feito mesmo (e mesmo fazendo o estrago foi enorme). 

    No campo religioso popularizou-se as transmissões virtual das missas, cultos, reuniões ou seja qual for o nome da cerimônia ou ritual de sua religião. Era, afinal, o único jeito de manter os fiéis espiritualmente alimentados. Solução bem longe do ideal, mas era o que dava para fazer. A partir de aqui vou me ater aqui à experiência católica. Se você professa outra fé ou teve alguma outra percepção do período, saiba que não é de você que eu estou falando (mas sinta-se bem vindo a terminar a leitura). As transmissões eram muitas vezes extremamente amadoras ou tentavam copiar, cada qual ao seu modo, as transmissões televisivas de missas, realizadas há muito tempo por emissoras como Rede Vida, TV Aparecida e TV Canção Nova. Internacionalmente, temos as celebrações papais geradas direto do Vaticano e disponibilizadas ao resto do mundo como modelo. Acima e abaixo eu deixei duas dessas transmissões profissionais para você poder acompanhar o que eu digo. 

    À época eu elogiei bastante a iniciativa das paróquias e comunidades, além, claro, das TVs, que davam seu melhor para levar ao povo de casa suas celebrações, mas o tempo fui passando e comecei a notar uma coisa: qual a diferença entre uma missa transmitida pelos meios digitais e um futebol de domingo à tarde na tela do plim plim? Ambas as produções são pensadas para atrair a atenção do telespectador pela maior quantidade de tempo possível e para isso se valem estratégias de enquadramento, troca de câmera, aquele zoom indiscreto na pessoa que se chama a atenção no banco ou na arquibancada e claro, um generoso espaço publicitário.

    Note que assim como nos jogos de futebol, as missas não te permitem se concentrar. A todo momento mostram uma pintura na parede, uma imagem de santo ou um fiel compenetrado nas palavras do padre. Quanto ao padre, o mostram por um ângulo, por outro, a câmera passa pelo concelebrante, mira no coroinha e por fim a tela se abre em um plano geral do presbitério. São sequências de imagens que ao fim mais nos distraem do que nos compenetram na Celebração Eucarística ali filmada. 

    E antes que você diga que no Facebook da sua paróquia não acontecia isso, saiba que o mesmo só não era (ou é) feito pelas limitações técnicas de aparelhagem e equipe disponíveis (ou porque na sua igreja matriz não tem nada para ser mostrado  fenômeno comum nas igrejas modernas). A boa vontade era refreada pela dificuldade de se produzir algo a nível profissional.

    E não se ofenda, isso não é maldade da TV Aparecida ou do Papa Francisco. É uma exigência do formato e do meio ao qual a missa está sendo exibida. Ela não foi pensada para substituir a sua comunhão dominical. Ela existe por N outros motivos, mas nenhum deles têm a ver com suprir a sua presença em uma igreja de tijolo, cimento, outras pessoas, vinho e pão. A pandemia serviu para que misturássemos as coisas e as intencionalidades e hoje é comum acharmos que viver em 2024 como se estivéssemos em 2020, 2021 é algo válido. E não é. O pároco da sua cidade age na melhor das intenções ao tentar copiar estes modelos  são os únicos que existem, afinal , mas erra gravemente se não adverte a seus fiéis que a missa real e missa digital são dois eventos totalmente diferentes.

   Hoje as missas transmitidas pelas paróquias diminuíram bastante. Talvez por uma tentativa de contenção de gastos, ou um convite para que as pessoas voltem presencialmente às suas comunidades. As missas da televisão, entretanto, seguem e seguirão firmes e fortes. Independente dos meios ou dos motivos, vale dizer que a religiosidade virtual, à distância, é uma ótima oportunidade para as pessoas que não podem, por qualquer motivo, viver sua fé, a vivam, mas jamais é uma substituta à altura da vivência física, material, da sua religião. A missa pela TV ou pela internet é sim algo muito bom, mas tenha sempre em mente que aquilo que você vê na tela de sua, antes de ser uma missa, é um programa de TV e programas de TV têm audiência, não têm assembleia*.

    Por fim, independente da fé que você professe ou da crença que você tenha, uma santa e feliz Páscoa a todos que me acompanham nesse espaço. 


*assembleia: como são chamadas às pessoas que, sentadas aos bancos, acompanham a cerimônia religiosa.

quarta-feira, 13 de março de 2024

Encantado's e a falência do modelo de TV aberta

 
     
    Estreou ontem na GloboPlay a segunda temporada da série Encantado's, que conta a história do dia a dia de um pequeno mercado no bairro de Encantado, zona norte do Rio de Janeiro. O que diferece esse mercadinho de vários outros na Cidade Maravilhosa e na ficção de modo geral é que após o expediente as prateleiras se arrastam e ali funciona o barracão de uma escola de samba, que luta para alçar voos nas divisões de acesso do Carnaval carioca. 

    Eu não assisti ainda a segunda temporada, mas vi a primeira recentemente, próximo ao feriado do Carnaval e me encantei (peço desculpas pelo trocadilho) com a série como um todo. Os personagens são muito variados e suas histórias cativam demais o telespectador, indo desde as clássicas histórias de amor até a superação dos bloqueios criativos que todo artista eventualmente passa; o enredo da trama é muito leve, podendo ser acompanhado por quase que qualquer público e trás elementos muito populares do dia a dia do brasileiro, como o trabalhar em mercado (quem nunca trabalhou ou não conhece alguém que trabalha) e o participar da grande festa nacional em fevereiro. Por fim, conta com um elenco majoritariamente composto por atores negros, o que, nas demandas da sociedade atual, é uma grande dedada na ferida, só que sem a militância gratuita que a gente tanto vê em obras que tentam incluir a todo custo minorias em seu casting. O típico "papel de negro", que é aquele do personagem que só existe na narrativa para sofrer racismo, não está presente ali. São pessoas pretas que vivem seu dia a dia normalmente e a temática do preconceito pode eventualmente aparecer, mas está longe de ser o tema principal da história. 

    Quando eu terminei de assistir Encantado's a primeira coisa que me veio na cabeça é:

"Essa é uma das séries mais TV aberta que eu já assisti na minha vida."

    E de fato, veja tudo que eu disse acima. Encantado's é um produto que deveria sim estar toda semana na nossa telinha, nos fazendo companhia depois da novela ou em qualquer outro horário que a Globo decidisse. E por que não está?

    Eu pensei, pensei, pensei e cheguei à conclusão de que talvez uma série aos moldes de Toma Lá Dá Cá, A Diarista ou Mister Brau não se encaixa mais no nosso modelo atual de TV, que a cada dia perde mais público e mais anunciantes para os conteudos "on demand", que pode-se ser visto na hora em que se quer  que é o que o streaming oferece. Basta você pensar, pra que fazer 32 episódios anuais de uma série, com dia e horário marcado, se existe a possibilidade de fazer apenas 12 e soltar na internet? E isso sem nenhuma reclamação de público? Pra que contratar um elenco para um ano todo, se esse mesmo elenco pode atuar como freela por dois meses e depois ser recontratado novamente por mais poucos meses? O modelo de TV que tínhamos anos atrás, ao menos aparentemente, se encaminha para seu final ou para uma mudança muito brusca. Eu particularmente acredito na segunda opção, mas independente de qual dessas duas for de fato rolar, pode-se ter certeza de uma coisa: em nenhuma delas o caminho será menos dolorido. 

    E para encerrar você pode argumentar que a Globo já passou essa série em TV aberta. E sim, é verdade. Você inclusive pode ver o trailer abaixo. Mas entenda, por mais que ele tenha passado na TV, ele não foi feito para passar na TV. Ou ao menos não na TV da forma como a gente gostaria que fosse feito.

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Megatemplos

    É normal vermos em redes sociais ou ouvirmos em conversas informais do nosso dia a dia opiniões contrárias à construção de grandes templos religiosos. Discursos como "esse dinheiro poderia ser usado para alimentar um número X de pobres" ou "se Jesus voltasse à Terra hoje jamais aprovaria essa extravagância" são argumentos bastantes comuns. Em meio a essa eterna polêmica (que já deve existir desde tempos imemoriais da humanidade) e aproveitando o embalo de duas viagens recentes que fiz, gostaria de propor uma reflexão sobre o assunto.


    Antes de tudo, vou chamar estas edificações pelo nome técnico que elas têm, "megatemplos". E vale dizer que esse tipo de construção já existe desde a Antiguidade, mas é com a secularização da sociedade que eles se tornam um tema de debate, seja na perspectiva interna, a partir do olhar do próprio culto e seus respectivos elementos; seja no perspectiva externa, tomando como base o senso comum, a opinião das pessoas que podem viver ou não o dia a dia da fé que está ali sendo representada, mas que têm (e podem ter) um pensamento a respeito desse fenômeno. A linha de pensamento que vou seguir tenta levar em conta um pouco destes dois universos.
    
    Os dois que visitei recentemente foram o Santuário Nacional de Aparecida, em Aparecida-SP e o Templo de Salomão da Igreja Universal do Reino de Deus, na capital paulista (um como fiel e outro como turista). São obras muito distintas entre si, mas que guardam pontos em comum. Ambas pertencem a instituições altamente relevantes no cenário brasileiro e atraem multidões às missas e reuniões ali realizadas. São também edifícios que impactam na paisagem, seja pelo seu tamanho, seja pela sua beleza (ignorá-los é algo bem difícil). Por fim, estando dentro deles, fica claro que tanto em um como no outro a celebração é o objetivo final, mas inúmeras outras atrações periféricas a esse objetivo estão ali presentes. E elas podem ser tanto religiosas, como roteiros com ensino, acolhimentos vocacionais, etc.; como comerciais, com lojas e lanchonetes, por exemplo.


    Mas o que eu penso a respeito disso? É errado construir templos gigantes, para receber pessoas e cultuar divindades? Não, não é, mas com alguns poréns. A edificação religiosa permite uma experiência com o sagrado para além daquela que o fiel teria em sua comunidade de origem? Ou em outras palavras, a pessoa que visita esse templo consegue aprender algo ou se conectar com Deus de uma forma diferente daquela que ele(a) tem todo domingo na igreja do seu bairro? Se não, qual a necessidade de se gastar milhões de reais em um prédio, se seu único diferencial é o número de cadeiras?

    Esse contato pode se dar através da arte, das atividades pedagógicas e culturais que a pessoa só vai encontrar ali ou mesmo através de uma história específica do local (é o lugar onde um santo viveu, por exemplo). Construir um barracão gigante onde não se tem uma preocupação estética, um cuidado especial com a sacralidade ou uma objetividade evangelística (no caso do cristianismo) é algo que acrescenta o que, exatamente, à vida do fiel? Pois se é pra gastar dinheiro com ônibus, com alimentação, com hospedagem e com a oferta, que então o destino lhe propicie uma experiência, uma transformação de vida. Caso contrário, por que mesmo sair de sua casa e de sua igreja de origem apenas para viver um mais do mesmo?

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

O Mundial do Palmeiras em imagens



    É normal, dentro da História, dos depararmos com "lacunas". Aquele momento histórico que sabemos, por diversos momentos que existiu, mas que não temos fontes, registros suficientes para poder acessá-lo. Isso, claro, é muito comum com eventos antigos, centenários, milenares, e menos comuns hoje, em um mundo onde a tecnologia é algo corriqueiro e acessível (é impossível, por exemplo, imaginar que sua ida ao shopping no final de semana com os amigos ou o/a parceiro/a vá terminar sem nenhuma foto ou vídeo).
    
    É mágico, entretanto, nessa mesma História, quando evidências de um momento parecem ressurgir do nada. Uma vistoriada em arquivos, uma limpeza de armários, uma investigação mais aprofundada e "pá-pum", o que antes era apenas imaginação agora é paupável, é visível. Isso aconteceu há alguns anos com as imagens da Copa Rio de 1951, o "Mundial do Palmeiras".

    Não vou entrar no mérito do título, se é mundial ou se não é, se é reconhecido pela FIFA ou só pela torcida, isso tudo pra mim não interessa. O que eu fico feliz de compartilhar é que hoje esse momento está disponível, ainda que parcialmente, a todos os torcedores e não torcedores. E não, não é uma descoberta recente. Essa é uma postagem antiga, que deveria ter ido ao ar anos atrás, mas nas paralisações do blogue, acabou ficando esquecida. As imagens foram divulgadas em 2008 e o Instituto Luce, da Itália (país da Juventus, vice campeã do torneio), é proprietário das imagens originais. Dada a precariedade da época, pode ser que estas sejam as únicas imagens em movimento deste título palmeirense.

Hoje, data em que se inicial a Conmebol Libertadores de 2024, compartilho com vocês, acima e abaixo, as imagens dessa conquista. Apreciem.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

As placas dos carros e a capacidade humana de se acostumar

imagem: Motos 2023
   
    É verão e a maior das alegrias da classe média baixíssima é juntar o carro, o ônibus, reunir a família e/ou os amigos e descer para a praia, curtir uma semana de areia, água salgada e barriga pra cima (imagino que excluam-se desse grupo as pessoas que moram na praia). Eu, como membro ativo da supra citada classe, também fiz esse passeio.

    Foram quilômetros e quilômetros de estrada, uma semana em uma cidade fortemente turística e uma coisa despertou a minha atenção: quando foi que paramos de procurar o nome das cidades nas placas dos carros?

    Sim. Isso é algo que eu não sei dizer se aconteceu só comigo, mas eu creio que tanto nos acostumamos com os modelos novos de placas automotivas - o "padrão do Mercosul" - que perdemos o tal costume, que ao menos na minha observação pessoal, era muito próprio do brasileiro, principalmente durante viagens longas. 

    Antes de seguir com o texto, vou contextualizar a história, para o caso de você ser uma pessoa muito distraída ou totalmente desinformada: por muito tempo utilizou-se no Brasil o modelo de placa de carro (e moto também) como o representado abaixo, com as letras e os números abaixo de uma inscrição com o nome do estado e do município onde o veículo foi registrado. A partir de 2020 passou a ser obrigatório em todo o país um novo modelo de identificação veicular, seguindo o modelo da imagem que abre este post. A placa trás mais elementos de segurança, mas exclui de seu desenho o local de origem do motorista.

imagem: Grupo Otimiza

    Muitas pessoas questionaram essa mudança na época, só que a lei é a lei e a gente não tem muito o que fazer contra ela. Mas não é sobre as placas que eu quero falar (embora já tenha gasto três parágrafos só falando delas)! O que me veio à cabeça, com essa questão dos nomes, é o quanto o ser humano tem o poder de se acostumar com as coisas, sejam elas boas ou ruins. 

    Veja, foram poucos os anos que se passaram desde essa mudança e pessoas que sempre utilizaram desse meio como uma forma de se entreter fora de casa simplesmente o deixaram de fazer. Provavelmente no começo com um pouco de frustração e mais adiante com bastante conformismo. Quando nos demos conta, nem sequer procurávamos mais pela localização dos carros.

    Imagino que isso possa ser explicado pela rotina, pela superação dos traumas, por alguma questão dos lobos dos cérebros ou das terminações nervosas centrais ou mesmo por qualquer outro argumento psicológico devidamente embasado. Como eu não sei nada disso, não vou ficar inventando diagnósticos. Queria apenas deixar essa reflexão mesmo. O caso das placas mostra muito sobre nossa natureza. Imagino que se acostumar é sobreviver e esquecer velhos costumes, abandonar hábitos antigos nada mais é do tocar a vida pra frente. Se não notamos que paramos de procurar pelo nome das cidades nas placas, por que viver atrás de rememorar, fora deste exemplo tão específico, coisas que já não estão mais no nosso cotidiano, no nosso dia a dia, como se fossem as placas cinzas de um VW Gol 2012 recém adquirido?

    Sim, eu sei que não é fácil deixar hábitos e costumes, mas pode se tornar mais simples de fazê-lo se pararmos de olhar para uma parte tão específica da chapa e começarmos a reparar, talvez, no quanto ela ficou mais bonita e colorida. É a mesma coisa? É bem provável que não, mas já é uma nova forma de admirar aquela mesma estrada do começo do texto, que de qualquer maneira, você vai ter que, enfrentar, com ou sem os seus passatempos de outrora. 

    Ah, e se você ainda assim é saudosista do nome das cidade, não desanime. O vídeo abaixo mostra o quanto essa placa mudou desde que desembarcou no Brasil (até 2019). Pode ter certeza de que é só questão de tempo para que a atualizem algumas outras vezes. Só não cometa o erro de esperar que elas voltem iguais. 

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Uma dica de série para a Record


imagem: Wikimedia Commons

    Fui ao cinema assistir ao filme dos Mamonas Assassinas nesses últimos dias. Um filme que que cumpre sua missão em divertir o público e, ao menos na minha opinião, que está bem longe de ser essa tragédia toda que tanta gente anda dizendo na internet. Bom, mas não é para falar do filme dos meninos de Guarulhos que eu estou aqui. O longa metragem dos Mamonas me serve de gancho neste post por um pequeno detalhe que passa desapercebido pelo público comum (e que eu não vi ser creditado em momento nenhum, nem na abertura nem no encerramento da película): esse filme não era para ser um filme, mas uma série. Uma série que seria exibida, e inclusive foi até mesmo anunciada, pela Rede Record de Televisão. Não é preciso dizer que isso nunca aconteceu. 

    Eu não sei os motivos disso então não cabe a mim fazer especulações. Posso, entretanto, supor que esse tipo de conteúdo passa bem longe da linha editorial do canal, descaradamente focado em um público mais cristão, majoritariamente evangélico, e conservador. Há problema nisso? Ao meu ver, nenhum. Todos têm a liberdade de produzir e consumir aquilo que lhe seja mais rentável, ou mais aprazível. Mas é inegável que a série biográfica de uma banda que se consagrou pelo "besteirol" típico dos anos 1990 talvez não fosse ter muito espaço na telinha do telespectador médio da Record.


    Todo esse contexto denuncia o que é tratado no tuíte (eu não sei se os tuítes ainda se chamam tuítes após o Twitter deixar de ter esse nome) destacado acima. Não, ele não é irônico, eu de verdade acredito que a Record deveria fazer uma série (série, não novela) biográfica sobre a vida de João Ferreira de Almeida, o tradutor da Bíblia para o português.

Exemplo de Bíblia atual com a
tradução de João Ferreira de Almeida.
imagem: Lucas R. F. Maester
    Os motivos são vários. O principal deles é que a vida deste homem realmente merece nossa atenção. Li recentemente uma reportagem sobre o mesmo na versão brasileira do site da BBC (que você pode conferir aqui). Nascido em Portugal, foi ainda cedo para a Ásia e muito jovem já realizava o trabalho de tradução que o consagraria.

    Vale destacar também o "espírito da Reforma", muito presente na época de João (século XVII), o que foi sua glória e sua desgraça. A glória por ter apresentado aos público lusófono a Bíblia em sua língua, já a desgraça por ter sido mal recebido em quase todos os lugares por onde passou, devido à sua burlesca intolerância religiosa, direcionada à Igreja Católica. 

    Vale lembrar que em 2017 já pipocavam notícias de uma suposta série retratando a vida do "pai da Reforma Protestante", Martinho Lutero, na TV da Barra Funda. Ficou só na notícia mesmo.

  Por fim, é um nome com a qual milhares, senão milhões de brasileiros se deparam diariamente (ou dominicalmente) e para maioria das pessoas, "nunca nem tchum" de quem é esse cara - como se diria aqui na minha cidade. Pessoas essas que são, imagina-se, em sua grande maioria o público comum da Record.

    E sobre a parceria, ela realmente pode acontecer? Aí eu já não tenho como saber, mas sendo uma personalidade portuguesa, por que não tentar? São cooperações que, dentro de circunstâncias parecidas, a concorrência consegue (e ainda seria pertinente para evitar, ou ao menos atenuar, qualquer tipo de proselitismo).

    E ah, Record, só uma última coisa: caso esteja lendo este texto, não exite tanto em lançar sua produção. Vai que no meio do caminho ela vira filme de novo, né?